AUTORES

Março 02 2014

                                                        flores

Prezados Jovens Aniversariantes

 

Não sei se alguém já vos disse que quem não é capaz de perdoar um insulto, muito provavelmente é bem digno dele. Por isso, quando fordes vítimas de um insulto ou difamação, o melhor é ignorar, desculpar, e, se, em recta consciência, houver uma sombra de verdade, aproveitar a oportunidade para uma revisão de vida. É bom que nos digam o que de mal pensam de nós, para nos podermos justificar ou para nos podermos corrigir. Pela vossa conduta, mostrareis que “o outro” que vos queria ofender, só vos beneficiou, passando a laborar em erro a vosso respeito.

É a maior “vingança” que lhe podeis dar, o maior “castigo” que lhe podeis infligir, porque nada é mais impróprio e impuro para o espírito humano que viver no erro e na ignorância.

 

 Mas, se alguém vos dedica um elogio, tendes de analisar e meditar muito, para avaliardes bem em que medida ele é merecido. Se, sem presunção, vos achais enquadrados nele, tendes, mesmo assim, a obrigação de nele vos aprimorardes e aperfeiçoardes. Um elogio recebido é responsabilizante. E se, sem falsa modéstia, achardes que no elogio há exagero ou engano? Pela vossa conduta, ireis mostrar que “o outro”, sem dar por isso, vos beneficiou muito, porque assimilastes os procedimentos à ideia.

 

Caros jovens, vimos também nós celebrar o vosso aniversário, com estas palavras amigas e augurando felicidade em vida longa e com saúde. Nessa vida longa que vos desejamos, ireis ter muitas vezes necessidade de rechaçar afrontas imerecidas, o que só vos fortalecerá o espírito, vos dará carácter, e é um dos melhores caminhos para receber elogios merecidos. Mas não deixem que quem vos elogie viva enganado a vosso respeito, porque não há nada mais impróprio e impuro para o espírito humano que viver no erro e na ignorância.

Em meu nome e em nome do PAZ como seu colaborador

                                                                                                                                                                 laurindo.barbosa@gmail.com

publicado por Fri-luso às 16:17

Março 02 2014

QUEMTIVER OUVIDOS QUE OUÇA

 

   Cristo disse “quem tiver ouvidos que ouça”(Mt 1l,15). Ora, mesmo sem nos referirmos à sensatez no sentido bíblico, o que se verifica é que, na realidade, há mesmo muita gente que tem olhos mas não vê, tem ouvidos mas não ouve, porque não olha para muitas realidades e não ouve as poucas vozes que pretendem mostrar-lhes essas realidades.

   Um exemplo disso é a pouca atenção que quase toda a gente dispensa à sua saúde, e, por causa disso, cometem excessos de toda a ordem, na alimentação e nos vícios que lhe dão prazer. De vez em quando, lá se alertam as pessoas para os malefícios do tabagismo e do alcoolismo, mas tudo continua como sempre. Também de vez em quando, são referidos os grandes malefícios provocados pela alimentação irracional, principalmente pelo excesso de gorduras que conduz à obesidade. Pois quase toda a gente continua indiferente nos seus hábitos alimentares, notoriamente prejudiciais, mesmo aqueles que por serem já obesos, têm obrigação moral e social de se corrigir.

Porém, esta insensatez, ainda não é das piores. Há uma outra obesidade, a que se pode chamar “obesidade mental”, de efeitos perniciosos muito superiores aos da obesidade física, e tudo por as pessoas na grande generalidade terem ouvidos mas não ouvirem, terem olhos mas não verem, terem neurónios mas não pensarem.

   A obesidade física resulta de hábitos alimentares nocivos, principalmente no consumo exagerado de gorduras. A “obesidade mental” resultará da intoxicação de que muita gente se deixou possuir, no campo da informação e da educação. A sociedade moderna está atafulhada de preconceitos, de ideias e opiniões que se generalizaram por se terem tornado moda. As pessoas viciaram-se em juízos superficiais, condenações precipitadas, opiniões formadas mesmo sem se conhecerem o âmago dos assuntos, que lhes foram impingidas por quem tem interesse que elas sejam vulgarizadas. As pessoas não se detêm a reparar na justeza do que lhe é dito ou ensinado, porque não estão atentas à vida, ao oportunismo dos espertos que vivem e prosperam à custa da ignorância dos outros. Preferem ter vontade abúlica que as leva a deixarem-se levar, não por gostos próprios e segundo a sua personalidade, mas por gostos e comportamentos que alguém habilmente conseguiu implantar como moda e de bom tom.

    Para isso muito contribuem a imprensa e as televisões. Essa comunicação social, que devia ser, a par da escola, um grande agente da instrução e cultura, conseguiu deturpar e até inverter os valores do são convívio e do progresso social, e a seguir, até para economicamente poder sobreviver, sente-se na obrigação de lisonjear as pessoas na formação que lhes foi dada, e alimentar a inversão que está na origem de tudo. Para isso arranjam comentadores, politólogos, especialistas disto e daquilo, que querem dar a sensação de que sabem de tudo, mas do muito que falam, sabem sem profundidade. Nunca se viu tanta sabedoria, ao mesmo tempo tão acumulada e tão espalhada!  Os jornalistas, os artigos de opinião, os editores de livros, realizadores de cinema, de telenovelas e revistas, cozinham, todos em conjunto, uma gigantesca alimentação de fast food intelectual que intoxica a formação cultural e da imaginação das pessoas.

   Há milhares de livros que nem sequer deviam existir. O leitor já reparou, por exemplo, que um grande número de livros têm um título que não tem qualquer relação com o seu conteúdo? O leitor que medite um pouco não compreende, mas logo a seguir deixa de meditar e fica convencido de que o título está correcto, se calhar tem a sua profundidade, ele é que por suas limitações não consegue atingir. É o que se pretende, porque uma técnica de massificação das pessoas é exactamente fazê-las convencer-se de que aquilo que é implantado na sociedade e se tornou opinião geral é que é o correcto, O mesmo se passa com os medicamentos. Há muitos que não deviam existir, e só se justificam pela liberdade de mercado e pela avidez económica dos grandes laboratórios. Um fármaco bastante usado no tratamento do colesterol, por exemplo, tem mais de trinta variedades espalhadas no mercado! De certa vez, há muitos anos, falando a um notável médico, pus-lhe em paralelo a condenável abundância de livros e de medicamentos. Quando eu acabei a minha prédica, ele, referindo-se a medicamentos, disse-me: “tens toda a razão, é mesmo assim, mas isso não se pode dizer a toda a gente!” Acabamos com uma risada muito cúmplice. Hoje talvez ele me tivesse dito: “isso não se pode dizer porque não é politicamente correcto”. O leitor já reparou também que o “politicamente correcto” se tornou moda, e hoje em dia tudo está subordinado a isso? Ser ou não ser verdade, sensato ou não, nada pode ser manifesto ou exprimido se não for “politicamente correcto”, e não é “politicamente correcto” ignorar o “politicamente correcto”!

O jornalismo escrito e televisivo, lisonjeiam as inferioridades humanas, e, assim, não se importam de beliscar reputações e, muito mais interessados que informar com verdade, parecem interessados no sensacionalismo de temas polémicos e chocantes. São poucos os programas das TVs. em que se focam  problemas humanos que devemos conhecer e se entrevistam pessoas valorizando nobrezas, para degenerarem em sessões de riso sem medida e conversas verdadeiramente fúteis. E então, nos concursos musicais e naqueles programas que pretendem ser de diversão, podemos ver o baixo nível a que desceu a música e a dança nestes tempos. Proliferam grupos musicais que se arvoraram em grupos artísticos, que se comprazem mais em berrar que cantar, mas até conseguem editar álbuns de sucesso e serem convidados para uma exibição ali, o que dantes seria uma grande honra. Esses grupos, que noutros tempos seriam considerados grupos fandangos, dão a impressão, a “quem tiver olhos que vejam e ouvidos que ouçam”, de que encontraram aquilo como solução de vida como um foragido encontra um valhacouto. Regra geral, são acompanhados por umas moçoilas que, cheias de juventude e de irrequietismo, colaboram de triste maneira na exibição dos fandangos, meio despidas e dançando com nível artístico apropriado à música, saracoteando e sacudindo-se como quem quer livrar-se de uma praga de pulgas ou de um exército de formigas! O talvez ainda mais lamentável, é que a numerosa assistência, massificada nas suas opiniões e gostos, sem sentido crítico e sem sensibilidade artística, aplaude alegremente toda aquela actuação! Parece que hoje em dia todas as pessoas a tudo batem palmas e com qualquer coisa se divertem – e lá continuam as TVs. e os intervenientes naquele espectáculo  todos satisfeitos, animados a prosseguirem na mediocridade. Também parece que as estações operadoras nunca sentirão essa mediocridade. Pelo contrário, devem sentir-se como entidades de utilidade pública, por em cada festival concederem dezenas de milhares de euros, como prémio entregue a quem tiver a sorte de o arrebatar, sem esforço, sem sabedoria, só porque um telefonema o permitiu. Esta prática está tão vulgarizada, que pode ser considerada como didáctica social psicologicamente censurável, por estimular a apetência pelo dinheiro fácil, o que por ínvios caminhos tem reflexos e consequências na vida pessoal e social. Mas tudo continua a rolar na massificação, no comodismo da rotina e da indiferença.

    Como se não bastasse a acção e influência de toda a comunicação social, a família e a própria escola dão uma ajuda para este perverso estado de coisas. Qualquer pai sabe que se os filhos abusarem de chocolates, de gelados, ficarão doentes, embora nem sempre tenha a necessária energia e disciplina para o evitar. Por isso, não admira muito que não se importe que a formação moral e mental deles seja feita por videojogos, telenovelas, filmes de violência e de pornografia mais ou menos velada. Disso só pode resultar uma educação muito deficiente, pelos exemplos que observa, pelo que aprende de falacioso e por falsos conceitos sobre a felicidade e o convívio social. O stress e as emoções com que lida, só lhe podem perturbar o sistema nervoso, e, por isso, grande parte dos jovens nunca conseguem uma vida verdadeiramente saudável e equilibrada.

   Pela superficialidade da instrução, pela permissividade na educação, não admira que as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência: família contestada, as tradições esquecidas, a religião abandonada, a cultura, o folclore e tudo que é artístico banalizado. Florescem as baixas e até doentias manifestações do espírito, como a falta de fraternidade, a falta de civismo e de delicadeza, o egoísmo, a pornografia, donde resulta aumento de violência e de criminalidade. É este o lamentável estado de coisas na chamada civilização ocidental, tudo derivado de não se seguir a doutrina do Evangelho e por se esquecer os conselhos de Cristo, entre os quais o de “quem tiver ouvidos que ouça”.

Nota importante– O conceito de “obesidade mental”, em que se baseia o exposto, foi recolhido da internet, onde vi noticiado (Out.2013) que o Doutor Andrew Oitke, Professor em Harvard, tinha publicado um livro polémico e contundente com esse título, e expunha exactamente, com a sua autoridade, as ideias que já estavam albergadas no meu espírito, hauridas de outras fontes e resultantes do que tenho observado em toda a vida social. Expus as minhas ideias fortalecidas e animadas pelas opiniões do referido catedrático.

laurindo.barbosa@gmail.com

publicado por Fri-luso às 16:13

Laurentino Sabrosa
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