AUTORES

Outubro 17 2013

PENSAMENTOS

 

106  –  Não fazer o mal porque não se conhece o mal, é bonito mas não tem mérito. O mérito estar em não fazer o mal apesar de o conhecer. Não fazer o mal por não o conhecer, é próprio de anjos papudos; não fazer o mal apesar de o conhecer, é próprio de arcanjos com espada de fogo. Meu Deus, desde há sessenta anos que fizeste de mim alguém que suporta risinhos e sarcasmos por ser figura típica de elegância raquítica, mas eu agora quero acreditar que isso é uma maneira de me dizeres que, também por aí, não queres que eu seja simplesmente anjo papudo. 

 

107 – “Antes quero burro que me leve que cavalo que me derrube”. Antes quero velha que me ame que nova que me despreze.  

 

108 – De muitas pessoas se diz que, apesar das suas aparências de espírito proceloso, são pessoas cordatas e amáveis, a questão é saber lidar com elas.

Mas será que alguém tem o direito de exigir que os outros se adaptem à sua maneira de ser, revoltada ou enfastiada, para as “obrigar” a ser amáveis e fraternas, para ser aquilo que deviam sempre ser, e só o são para quem as lisonjeia, por lhes ter descoberto as manias e as idiossincrasias? É obrigação de todo o ser humano ter um mínimo de cordialidade e de atenções para com todos, e não estar à espera de que sejam os outros a tomar a iniciativa de ter essas atenções e cordialidade para com ele e, depois, retribuir duma maneira distante, cerimoniosa e fria.

O burro teimoso que não quer comer palha, também come palha se lha souberem dar, e o seu agradecimento por isso é tão frio e distante que quem lhe soube dar a palha mal se dá conta dele. Sejamos ser humanos, não asininos.

 

109  - Muitas pessoas, quando não têm razão nem justificações verdadeiramente válidas para se defender, inventam subterfúgios, agarram-se a minudências para se desculparem e se defenderem. No entanto, não passam de náufragos aflitos que querem fazer de palitos tábuas de salvação.

 

110 – Quando eu morrer, é a vida que me diz provisoriamente adeus, sem que eu possa dizer adeus à vida. Essa continua, para depois me reencontrar. Quem se suicida, não é a vida que lhe diz adeus, é ele que quer dizer adeus à vida, com quem, também se vai reencontrar, mesmo sem querer. Porque a vida já a tínhamos mesmo antes de nascermos. Por isso, bem se pode dizer que no dia em que saímos do ventre da nossa mãe, não nascemos, não iniciamos a nossa vida, continuamos a vida que já tínhamos, vindo agora para este mundo. Vir para este mundo não é verdadeiramente nascer.

 

111– Uma pagela obituária de um amigo meu dizia: ´Só morre quem nunca viveu no coração de alguém. Com isso se quer dizer que ele, o meu amigo, porque foi amado por diversas pessoas, nunca morrerá, pois continuará a viver no pensamento e no coração dessas pessoas.

Eu, porém, prefiro dizer: Só morre quem nunca teve ninguém a morar no seu coração. Quem não morre por continuar a ser recordado e amado por alguém, vive não pelas suas forças anímicas ou espirituais, mas pelas forças de quem o ama e enquanto viver quem o ama. Tem uma vida passiva. Mas quem morre a amar alguém, com esse alguém a morar no seu coração, vive pelas suas forças activas, numa vida própria que o amor que teve no seu coração lhe confere, serena, espiritual, celeste, angélica, divina, eterna…

 Quem é simplesmente amado, encanta-se, rejubila; quem ama sofre e sublima-se.

laurindo.barbosa@gmail.com

 

publicado por Fri-luso às 20:50

Outubro 17 2013

              POSTAL DE PARABÉNS A TODOS OS LEITORES ANIVERSARIANTES

 

 

Há muitos anos, um meu amigo, falando-me de certa senhora, disse-me que ela era muito rica. Sabendo eu que essa senhora vivia muito modestamente, estranhei o dito e, então, o meu amigo acrescentou: ser rico não é só ter dinheiro; há muitas espécies de riqueza: educação, bondade e outros dotes de espírito e de carácter … Compreendi.

 

Alguns anos mais tarde, alguém, muito conhecido pela sua grande fortuna, aludindo à sua própria pessoa, disse-me: quem o é, não se importa de o ser; quem não é, quer parecer. Compreendi e aprendi. Fiz a ligação dos dois ditos, e aprendi que, qualquer que seja a espécie de riqueza, neste mundo tão cheio de exibicionismos e de vaidades, não falta quem queira fazer parecer que tem virtudes e riquezas, que até sabe que não tem: quem não é, quer parecer. Mas observando bem esse tal mundo, também pude ver que há ainda muita gente que tem riquezas e virtudes, mas por modéstia e simplicidade, nem sequer delas se apercebe, e muito menos se preocupa em as realçar: quem é, não se importa de o ser.

 Prezados aniversariantes. Sabem bem que não os conheço, Porém, não devemos pensar senão o bem em cada um, e acredito que pelo simples facto de estarem a ler este Blog pertencem à digna espécie dos que são mas não se importam de o ser. Não consigo imaginar uma leitora megera nos seus sentimentos, nem um leitor crápula nos seus procedimentos. Têm riquezas e virtudes de que não precisam de se alardear junto de ninguém, apesar de neste mundo de vaidades e de exibicionismos haver poucos que reparam nas riquezas morais dos outros. Como amigo, embora desconhecido, eu reparo, e tomo a liberdade de, neste seu dia de feliz aniversário, me associar à sua família, que de uma maneira diferente e melhor que a minha lhe dirá e fará sentir o mesmo.

 Desejo-lhes que por muitos anos continuem a ser o que sempre têm sido, usando as suas riquezas sem delas se darem conta. São riquezas que nunca se esgotam, porque ter riqueza não é só ter dinheiro – é ter, sobretudo, bondade, sinceridade, simplicidade, educação, afabilidade e outros dotes de carácter e espírito, que fazem de si, mulher, verdadeiramente MULHER e de si, homem, verdadeiramente HOMEM.

 SAÚDE E FELICIDADES EM LONGA VIDA

                                                                                                       laurindo.barbosa@gmail.com

publicado por Fri-luso às 20:41

Outubro 17 2013

UM POEMA DE EUGÉNIO DE ANDRADE - Comentário

Tenho presente o seguinte poema de Eugénio de Andrade que, quanto a mim, é uma das belas entre as poesias moderna.As poesias modernas, enfim, talvez não valha a pena fazer comentários.

 

É urgente o amor.

É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras:

Ódio, solidão, crueldade, alguns lamentos

e muitas espadas.

É urgente inventar alegrias, multiplicar os beijos

e as searas.

É urgente descobrir rosas e rios, e

manhãs claras.

Vai o silêncio nos ombros e luz impura

até doer.

É urgente o amor, é urgente permanecer.

 

Apetece-me fazer um comentário, fazendo de conta que voltei aos bancos da escola e que no exame me pediam uma análise desta poesia.

É urgente o amor não só agora que o sabemos tão conspurcado, não só agora mas em todas as épocas e em todos os domínios. Há aqui uma intemporalidade. Grande é a preocupação do poeta e manifesta-a usando repetidamente o aviso – é urgente…é urgente.

Para que o amor seja adquirido e implantado com urgência, é também necessário outras coisas para além das apontadas pelo poeta.

É urgente um barco no mar é um apelo que tem qualquer coisa de ecológico. Poder-se-ia dizer “é urgente uma árvore na floresta”. Tanta coisa se tem visto que tem o aspecto desolador de um mar que soubéssemos sem barcos em toda a sua extensão, onde não se via manifestações da vida humana, onde só pudéssemos supor uma vida “subterrânea”, tao invisível que o tornaria a nossos olhos um “mar morto”.

É urgente o amor, mas também é urgente o trabalho e “amar o amor”, sendo optimista a respeito do amor, para multiplicar os beijos e descobrir manhãs claras. Só assim poderemos banir o que nos pesa e faz doer os ombros – o silêncio doloroso e a luz impura. Agora há mais actualidade que intemporalidade.

Em toda a poesia há uma ideia de mudança que importa promover com urgência, atitude em que é urgente permanecer, seja para pôr barcos no mar, seja para plantar árvores na floresta – acções de trabalho, vida e fé – seja para destruir certas coisas: certas palavras e muitas espadas. É “urgente permanecer” ainda na atitude de elevado ânimo que nos leve a inventar alegrias e a descobrir rosas e rios.

Esta poesia em que tanto se insiste que “é urgente o amor”, parece toda voltada para a fraternidade humana e para a ecologia, entendida esta como boas relações do Homem com a Natureza. Na verdade, vemos referências à necessidade de afastar ódios e de multiplicar as searas.

Não se vislumbra, aparentemente, uma alusão àquele amor dos casais, casados ou não. Talvez entre eles não seja preciso lembrar que é urgente “multiplicar os beijos”. No entanto, o amor entre os casais está talvez mais conspurcado que o amor do Homem pela Natureza, e tanto em perigo como a fraternidade humana. Também entre os casais é “urgente o amor”   e também aí é “urgente permanecer” no amor. Também aí a mudança é urgente – os amantes devem passar a ser namorados, não apenas amantes como agora são. É possível que o poeta tenha pensado neles quando se referiu à luz impura que, pesando nos ombros, até faz doer.

 

Gostaria de saber que nota merecia este “ponto escrito” de um doutor, professor de Português e de Literatura. Se ele (ou ela…) tivesse uma amante, não propriamente uma namorada, ficava logo reprovado e nem sequer ia à prova oral!

                                                                                                       laurindo.barbosa@gmail.com

publicado por Fri-luso às 20:37

Outubro 05 2013

publicado por Fri-luso às 16:17

Outubro 03 2013

publicado por Fri-luso às 20:12

Outubro 03 2013

UM CONSELHO E UMA HISTORIETA

 

Muitas pessoas adoptam como código secreto do cartão multibanco a data do seu aniversário. É de facto uma maneira fácil e cómoda para não esquecer e não confundir com outros códigos que porventura haja para utilizar. Convém saber que isso é bastante perigoso, especialmente quando juntamente com o tal cartão se usa ter o B. de Identidade ou qualquer documento em que figure a data de nascimento. É que esse hábito de usar a data de aniversário como código de cartões bancários está de tal maneira vulgarizado que os carteiristas ou assaltantes que consigam roubar cartões e documentos, vão logo experimentar sacar dinheiro, e muitas vezes têm sorte. Se virem nos documentos que o dono do cartão faz anos a 10 de Junho, eles vão logo ver se o código 1006 ou 0610 funciona. Portanto, caso se queira utilizar a data de aniversário como código, nunca se deve trazer ao mesmo tempo e na mesma carteira documentos que indiquem essa data.

Da mesma maneira, há pessoas que nos seus cofres pessoais usam iniciais do seu nome ou de algum familiar. Também é perigoso, pois no caso de a residência ser assaltada, é muito possível que o assaltante, como de costume sempre muito esperto, saiba ou se informe previamente dos nomes dos locatários, e vá experimentar as devidas letras para tentar abrir o cofre.

 

Isto é um conselho que cada qual pode aproveitar ou não, mas se estiver “em falta” naquilo que estou a mostrar e não corrigir, não se pode queixar do mal que lhe venha a suceder.

Ora, saiba o leitor que de certa vez dois meliantes de alto coturno planearam assaltar uma casa, um bom palacete cujos proprietários estavam em férias. Munidos de boas ferramentas foi-lhes fácil em certa noite, com lanternas e tudo, penetrar dentro. Seguros de que todos estavam bem ausentes, não tiveram pressas ou nervosismos e encheram uns sacos com várias preciosidades. A certa altura depararam com um pequeno quarto, onde com vários arrumos se encontrava um móvel metálico fechado à chave, mas que, com a maior facilidade conseguiram abrir. Logo reparam num cofre solidamente soldado ao móvel.

 – O cofre ! Ó Zecas, vamos lá ver se conseguimos arrombar. Deve haver aí grandes maquias!

O Zecas torceu o nariz. Não via grandes possibilidades de o fazer, não vinha preparado para esse tipo de arrombamento.

 – Ó pá ! Não me digas que não queres tentar mesmo nada! É uma combinação de só duas letras! Tenta lá, a madrugada ainda vem longe. Podemos ter sorte!

O Zecas começou a tentar combinações ao acaso. Depois de mais de uma hora a fazer tentativas sem êxito, exasperado, vociferou:

 – Porrraa!!! Este cofre é ainda mais filho da puta que o dono!

  O outro deu uma risada.

 – Ai o dono é filho da puta?!

 – Claro – disse o Zecas – Conheço este gajo há muitos anos, andei com ele na escola. A mãe dele era mulher da vida, e nem ela sabe quem é o pai do filho que teve. Um dia, teve sorte, encontrou um tipo que, pelos vistos, era um ricaço, que gostou dela e acabou por casar com ela, e foi assim que este gajo também ficou cheio de sorte…herdou tudo… é o senhor engenheiro cheio de dinheiro !

 – Nunca ouvi falar dele, desse senhor engenheiro assim tão rico. E é engenheiro de quê? De minas, se calhar… encontrou uma mina de ouro ! Como se chama ele?

 –  Eu sei lá ! Para nós na escola ele era o Chico.

 – Chico, é Francisco. E é Francisco quê?

 – Eu sei lá! – respondeu o Zecas – nunca soube, nunca quis saber do resto até porque nunca fomos amigos.

– Ó pá! se ele é Francisco e é filho da puta, então experimenta o FP.

O Zecas fez mais uma tentativa, mesmo sem esperança ou convicção. Para espanto de ambos, de olhos arregalados, era mesmo aquela a combinação do segredo do cofre!

É que o seu dono, o tal que era sem querer o que gostaria de não ser, chamava-se Francisco Pereira!

 

Caro leitor. A historieta confirma o conselho. Aproveite-o enquanto é tempo.

laurindo.barbosa@gmai.com

publicado por Fri-luso às 19:56

Laurentino Sabrosa
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