AUTORES

Julho 26 2013

Filosofia da linguagem 

 

A palavra PRESENTE tem basicamente dois sentidos: “oferta, prenda”  e “está junto de nós”.

Quando alguém nos oferece um presente, de certa maneira e, em maior ou menor medida, está junto de nós no seu pensamento e nos seus sentimentos. Quando nós estamos juntos de alguém a fazer-lhe companhia ou a dar-lhe os nossos desvelos, estamos presentes e a conceder os nossos presentes: estamos presentes por estarmos ali bem perto e damos presentes, em ofertas de amabilidades, serviços, atenções e delicadezas.

Há alguém que está sempre presente e a dar-nos sempre presentes. Esse alguém, é Alguém a quem chamamos Deus. Está sempre junto de nós, está sempre presente; cada dia que amanhece é um presente de Deus, é a oferta de mais um acordar; e continua sempre a dar-nos múltiplos presentes, que muitas vezes não valorizamos nem damos por eles.

“O que nós somos é o grande presente de Deus para nós; o que nos

tornarmos, é o nosso presente a Deus” Eleanor Powel

 Para um cristão, importa que nosso presente a Deus seja o mais possível compatível com os que Deus nos dá.

Costuma-se perguntar por graça, como que a propor um enigma: “porque é que tudo junto se escreve separado e separado se escreve tudo junto? É mera coincidência? Filosoficamente e religiosamente não há coincidências, pelo que o enigma deve merecer alguma atenção.

Os filósofos alemães defendem que um ser, uma entidade, deve ser designada por uma só palavra, o que dá origem em alemão a palavras muito extensas. Companhia de navegação, por exemplo, que em português é uma designação dividida em três partes, em alemão é designação de palavra única. Por essa filosofia, e da mesma maneira, qualquer numeral, pequeno ou grande, por exemplo, 345.678, é uma única palavra.

Depois deste parêntese, a querer mostrar quanto a filosofia pode estar inserida na linguagem, para além da poesia, convém meditarmos um pouco neste duplo sentido da palavra PRESENTE. A mesma filosofia de linguagem também se verifica na palavra PACIENTE. Também ela tem basicamente dois sentidos, que devem merecer a nossa meditação. Paciente é o que tem paciência; ou então está doente, está em sofrimento.

Na verdade, ser paciente, ter paciência, exige por vezes algum sofrimento em autodomínio, em compreensão, em tolerância e caridade. Por outro lado, quem está em sofrimento deve aceitar sem revolta o sofrimento, para ser paciente nos dois sentidos: paciente porque sofre, paciente por sofrer com paciência. Aliás a impaciência perante o sofrimento só serve para o aumentar.

Consideremos agora o verbo ESPERAR. Temos nele dois sentidos  principais: esperar, aguardar, estar à espera; e esperar, ter esperança. Em francês e em inglês, por exemplo, existem palavras diferentes: aguardar, attendre e to await; ter esperança, espérer e to hope. Em português, a palavra é sempre a mesma, o que é uma riqueza e subtileza de linguagem que numa perspectiva filosófica nos deve levar a meditar.

Quem espera por um comboio está na esperança de que ele chegue, e quem tem esperança na bondade e nas promessas de Deus está à espera que elas se manifestem.

Assim, cada uma destas palavras presente, paciente e esperar, e possivelmente outras, têm dois sentidos tão intimamente ligados e interdependentes que não devemos ignorar, a bem dos nossos sentimentos e dos nossos conhecimentos da Língua Portuguesa.

 

laurindo.barbosa@gmail.com

publicado por Fri-luso às 10:25

Julho 26 2013

PENSAMENTOS

 

101 -  É mais fácil mudar a natureza do plutónio do que mudar a natureza maldosa do homemEinstein

É um pensamento pessimista, científico-literário, que se assemelha ao anterior de Rousseau. Será que o homem, o homem em geral e em termos abstractos, é assim tão mau? Se 2% da humanidade fosse de vigaristas, 2% fosse de assassinos, 2% fosse de proxenetas, 2% fosse de traficantes de droga e de armas, teríamos um total de apenas 8% de indivíduos como escória de toda a humanidade, mas bastariam esses 8% para que a vida em sociedade fosse insuportável. Portanto, ainda temos na humanidade mais de 92% de gente boa e sã! Os grandes matemáticos às vezes não sabem fazer contas!...

 

102 - O mundo tornou-se perigoso porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de se dominarem a si mesmosAlbert Schweitzer

Não me parece que os homens tenham aprendido a dominar a Natureza. Podem ter a ilusão, provisória, de que a dominaram, mas lá virá tempo em que ela se “vinga” com as tais imperfeições de que falava Pascal, para que a humanidade – quem tiver ouvidos que oiça, quem tiver olhos que veja, como disse Cristo – se venha a corrigir e a compreender que contrariar a Natureza é o mesmo que contrariar o Criador e que dominar-se a si mesmo é melhorar “a sua natureza”, não melhorar a Natureza.

 

103 - Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma – Lavoisier.

 Esta frase é uma sentença filosófica que não foi expressa nestes termos por Lavoisier. Lavoisier era químico, e estabeleceu a lei com o seu nome - Lei de Lavoisier: o peso de um composto é igual à soma dos pesos dos seus elementos. A partir desta realidade científica, na época de grande projecção, é que os filósofos da Revolução Francesa, de que Lavoisier foi um dos guilhotinados, elaboraram a sentença acima mencionada. É possível que isso também se tenha reflectido na Teologia, onde se diz que, pela morte, a vida não acaba, apenas se transforma.

 

104  - Antes de ser um homem da sociedade, sou-o da naturezaMarquês de Sade O marquês de Sade é bem conhecido, justa ou injustamente, pela sua personalidade depravada, para a qual pessoas e circunstâncias, a sociedade, conforme diz Rousseau, se encarregou de acentuar. Para mim, a frase é um pouco dúbia. Refere-se à Natureza ou à “sua natureza”? O mais provável é referir-se à “sua natureza” e, então, confessa-se escravo das tendências humanas nada dignas e dos impulsos condenáveis. Nesse caso, a fama que tem é justa, tanto mais que ele parece estar convencido de que, aquilo que ele é, todos o são. Ainda segundo ele, As paixões humanas não passam de meios que a natureza utiliza para atingir os seus fins – parece que pretende desculpar toda a gente das suas paixões por serem inevitáveis.

 

105 - A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana - Charles Darwin  

Mas não é a mais nobre. Mais nobre que ter compaixão pelos animais é ter compaixão pelas pessoas. Sei de um caso real em que uma família, querendo agradar a outra, deu um pastel a um cãozinho de luxo, depois de o ter negado a um rapazinho que se mostrara esfomeado e desejoso dele.

 

laurindo.barbosa@gmail.com

publicado por Fri-luso às 10:23

Laurentino Sabrosa
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