AUTORES

Abril 20 2012

 

 PENSAMENTOS (cont.) 

  

35 - O homem verdadeiramente inteligente é aquele que ouve de toda a gente conselhos e opiniões, mas acaba por seguir a sua.

  

36 - “ Aquilo que retemos indevidamente na nossa posse, toda a vida chora pelo dono”.

 

“Meu Deus, Eu sei que, com o que me deste até agora, Tu já me consideras um homem rico. Por isso nada Te peço de valores como prémios de totoloto, totobola, lotaria, heranças, fortunas, faustos e grandezas. Mas, meu Deus, há uma coisa que eu Te peço: que não me retires nada daquilo que até agora me tens dado. Dessa maneira, já me estás a dar muito e até eu me sinto extraordinariamente rico. Não preciso de mais”.

 

Estes pensamentos não são my own – são de um amigo meu, António Dias Salgueiro, aqui registados em sua memória e em comovida homenagem. Deus fez-lhe sempre a vontade, até ao dia em que lhe roubou a saúde, para depois lhe roubar a vida. Partiu aos 93 anos. Deus chamou-o para o enriquecer mais.

  

37 - Quando um homem vai acompanhado de uma mulher e se cruza com outra mulher que a fita com demasiada atenção e persistência, é sinal de que essa mulher a odeia por ir acompanhada daquele homem.

  

38 - O que não pode ou não deve ser continuado, nem sequer deve ser começado, ainda que se tenha de andar sempre ougado.

  

39 - O realizador de filmes com animais, ainda que sejam dinossáurios, não consegue fugir à humanização das figuras, quanto mais não seja pela fala e por manifestação de sentimentos; em contrapartida, os homens que nos filmes lutam ou perseguem animais, têm muito de animalesco estampado no rosto.

  

40 - Sou de opinião que o povo português, talvez mais que os outros europeus, é um povo sem rituais. Reza pouco, pois isso já exige um mínimo de ritual, pelo menos de vez em quando, sobretudo na Missa. Tomar uma refeição, um chá, um café, à pressa, de pé, sem companhia, sem concentração espiritual, sem toalhas e sem as louças apropriadas, é coisa que se aproxima muito da vida meramente vegetativa ou até da irracionalidade. Não há ritual a iniciar as refeições, a terminar as refeições, ao deitar e ao levantar, não há ritual nas reuniões de família e nas reuniões de trabalho. E é pena, porque os rituais desenvolvem a espiritualidade e dela se alimentam. A oração, por seu lado, será mais perfeita se for feita, não de qualquer maneira, mas com um certo ritual. A nós, ocidentais, pode parecer ridículo e nada necessário o ritual que os chineses têm a tomar chá; pode-nos parecer ridículo que os japoneses tenham o seu ritual nos próprios combates marciais, este último de feição pagã. Provam com isso que têm uma civilização de maior espiritualidade que a nossa. Dantes, talvez há 80 anos, qualquer coisa esquisita, pouco ou nada conforme os nossos hábitos e mentalidade, era uma chinesice ou uma americanice. Mas a verdade é que eles, com chinesices e americanices, são hoje dois povos dos mais avançados do mundo, cada qual à sua maneira. Esperemos que a civilização oriental dos chineses com a sua espiritualidade, não venha a subverter a civilização ocidental, exactamente por esta só ter materialidade.

  

41 - O suicídio é um voluntário adeus ao mundo, em que se quer que o mundo nos diga não voluntariamente adeus. É o mal de quem, fazendo contas à vida, não sabe Cálculo das Probabilidades: em vez de achar probabilidade igual a 1 (certeza), errando os cálculos achou probabilidade igual a zero (impossibilidade).

  

42 - O Mistério da Encarnação encerra dois mistérios que se sobrepõem: o nascimento de um ser humano sem intervenção de um pai biológico e o facto de esse ser humano não vir procurar o seu bem nem um estatuto superior na escala social.

  

43 - O Muro de Berlim foi um muro de ossos em carne viva, construído com as vítimas do holocausto.

  

44 - Dizia-se nos provérbios antigos que “ quatro coisas quer o amo ao criado que o serve: deitar tarde, levantar cedo, comer pouco e ser alegre” – dito que era muito apropriado ao meio rural, e que agora, mutatis mutandis, ainda pode ter muita aplicação. De maneira semelhante, há quatro coisas que Deus quer que nós façamos para sermos benquistos perante Ele, tal como o criado queria ser benquisto do seu patrão: dar, trabalhar, sofrer e rezar. Mas há uma grande diferença: enquanto o patrão gostava ou gosta que o seu criado desse nas vistas dele e de toda a gente, Deus quer que essas quatro coisas sejam feitas sem dar nas vistas de todos, para que sejam vistas só por Ele.

  

45 - Senhor, que tal se, como em certas leis físicas, o clamor e o valor das nossas orações subirem em progressão geométrica, enquanto o número dos vossos eleitos subirem apenas em progressão aritmética? Não olhes os nossos pecados mas a fé da vossa Igreja.

 

46 - Os homossexuais querem ser pais dos filhos dos outros, adoptando crianças. Na verdade dois homens ou duas mulheres nunca poderão substituir um pai e uma mãe, adoptivos que sejam. Sabemos que mesmo entre as mulheres nem todas têm sentimentos de amor e de dedicação, para substituírem a mãe verdadeira. Um “casal” homossexual nunca poderá atender verdadeiramente à educação psicológica e afectiva duma criança, que mais tarde, por não ter as mesmas tendências dos seus “pais” adoptivos, pode ficar traumatizada por ter sido criada numa união que pode ser-lhe repulsiva. O direito de adoptar crianças como qualquer heterossexual, especialmente por dois homens homossexuais, é um direito de que muito poucos pensam usufruir, e a exigência desse direito só se compreende como requinte, sensação de vitória plena e talvez trocista sob a capa de perfeita igualdade.

  

47 - Só os espíritos frágeis e abonecados é que se apaixonam por alguém. Mas não será virtude ser-se espírito frágil e abonecado?

  

48 - Cristo era um homem libérrimo. Não tinha medo nem da fome, nem da morte, nem da guerra, nem das bocas do mundo, nem dos cavalos das hordas romanas. Só fazia a barba quando tinha compromissos sociais, o que nunca aconteceu, para além das bodas de Caná. As parábolas de Cristo são hipérboles, e não tinha medo das incompreensões, nem do ridículo de pertencer à juventude rebelde. Aliás, tudo nele era exagero e excêntrico, até na sua bela cabeleira. Até apetecia ir comprar um cometa para se ter uma cabeleira assim!

  

49 - Tenho verificado que quanto menos pedimos, menos nos querem dar. Por isso, no exigir, não no pedir ou poupar, é que está o ganho. Quem não chora (quem não exige), não mama (não obtém).

  

50 - Ó Deus! Que eu não queira aquilo que eu queria, por ser de Teu querer que eu não queira. Que eu aceite o que Tu queres, não o que eu queria, por ser de Teu querer que eu não queira.

laurindo.barbosa@gmail.com

 

publicado por Fri-luso às 13:49

Abril 13 2012
publicado por Fri-luso às 22:04

Abril 13 2012

 

  

ATÉ QUANDO, ATÉ QUANDO?

 

Um LAR ou qualquer instituição que tenha funções hospitalares ou de assistência a idosos, é como um grande bote puxado à sirga, com uma grande despensa de sofrimento onde todos se aprovisionam. Mesmo quem o puxa, não está isento da necessidade de ir à despensa buscar a sua dose. Há muito quem não saiba o como, o quando e o porquê de nada, não sabe localizar-se no tempo e no espaço, não sabe do quarto onde dorme, olha para a televisão mas não vê televisão, vive muito mais por instinto que por inteligência, e os que menos sofrem são os que andam de bengala, fazendo dela um fio de terra por onde se escapulem grande parte das suas dores.

Aqui, onde estou hospedado vitaliciamente, onde eu e poucos mais somos “membros honorários”, por sermos  “reis em terra de cegos”, há uma mulher que é das que menos sofre, de nome Albertina, mas que em certos aspectos é uma pessoa inferior. Embora não seja deficiente nas faculdades motoras, está muito depauperada na agilidade mental e nas capacidades intelectuais. Não sabe ler, não sabe andar só, mesmo dentro de portas, tem medo de andar no elevador. Ontem, encontrei esta mulher a dar a outra uma espécie de gaze, uma coisa que nunca vi, para resguardar um ferimento, aliás sem gravidade. Passou uma enfermeira, que também viu a cena e, como eu, ficou admirada da tal gaze ou lá o que era. A enfermeira elogiou-a por aquilo que estava a fazer, porque de facto era muito apropriado, e então, a Albertina disse, com um certo ar compungido: oh! eu não gosto de ver ninguém sofrer!

 Fiquei a pensar: também eu não gosto de ver ninguém sofrer, farei mesmo o que puder para o evitar. Mas os sentimentos desta mulher devem ser perante Deus muito superiores aos meus, porque ela é uma pessoa “deficiente” e eu sou uma pessoa “eficiente”. Ela não tem, como eu, a responsabilidade de quem sabe. Como seriam os meus sentimentos se eu fosse como ela e tivesse o mesmo nível cultural e de instrução? A Bíblia diz que um simples copo de água dado, não fica sem recompensa. Eu, que li a Bíblia, procuro, então, dar um pouco mais – procuro dar um copo de leite. Mas ela nunca leu a Bíblia. Como seria eu se não tivesse lido a Bìblia? Sem as virtudes que a Bíblia faz despertar, eu receio que seria como muitos são: diminuto de sentimentos e obtuso de espírito. Talvez não me importasse de ver os outros sofrer.

É impressionante ver, mesmo em quem presumivelmente leu a Bíblia, a indiferença perante o sofrimento dos outros e as injustiças que existem neste mundo. Quando eu vejo essas injustiças, que a vida deste mundo em sociedade mal consegue dirimir, apesar do esforço de muitos nesse sentido; porque sei que há quem aufere mais num mês que muitos outros, que trabalharam toda a vida, num ano – eu sinto-me confrangido e até revoltado, e, perante a minha incapacidade de remediar, ouço-me a dizer: Até quando, Senhor, vais tolerar essa injustiça? Concede a toda gente o conforto da minha cama, a segurança do meu tecto, a abundância da minha mesa e o consolo dos meus banhos. Eu sei, meu Deus, que isso é impossível na ordem social económica que temos, e até segundo a Tua Providência, parece pouco viável, porque seria aproximar demasiado o Céu da terra. Mas, meu Deus, eu não posso deixar de desejar desde já uma coisa dessas. Até quando, Senhor, vais tolerar a injustiça de uns terem tudo e outros não terem nada? Porque, meu Deus, eu não fiz nada de especial para merecer aquilo que tenho, e outros, por terem mais fé, mais ardor, mais energias e iniciativas, merecem ter aquilo que eu tenho e eles não. E não é preciso ir muito longe, não é preciso ir aos teus santos ou doutores, para encontrares quem me seja superior – olha! Talvez essa Albertina, tão ignara e simplória, valha a teus olhos mais do que eu, e não tem o que de bom eu tenho, o que é uma coisa sumamente contrária ao conceito de justiça que Tu próprio implantaste no nosso sentimento!

Na Literatura e na História ficaram célebres as catilinárias, discursos de Cícero contra Catilina, verdadeiras diatribes em que lhe censurava a sua traição contra a República. Talvez que o mais célebre seja logo o primeiro, em que Cícero o increpa violentamente, começando por lhe dizer: Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Este “até quando” é uma manifestação de indignação. Mas, muitas vezes, esta interrogação assume a característica de impaciência ou de ansiedade. Quem lê os Salmos, encontra-a várias vezes.

No salmo 4,3, lê-se: Homens, até quando desprezareis a minha glória? – uma interpelação do próprio Deus, onde o “até quando” é mais um aviso que uma manifestação de tristeza.  O salmo 13, apesar de muito curto, tem nada menos que quatro dessas interrogações, em manifestações de sofrimento pela privação das benesses de Deus:

               Até quando, Senhor? Esqueceste-me para sempre? Até quando me esconderás a Tua face?

               Até quando terei a minha alma em cuidados todo o dia? Até quando triunfará o meu inimigo sobre mim?

  Continuando a busca, encontramos o salmo 62 (61) em que David, fortemente acometido pelos seus inimigos, manifesta a Deus a sua confiança. Porque Ele é o seu rochedo e o seu refúgio, ousa provocar esses seus inimigos, perguntando-lhes directamente: Até quando atacareis um homem, todos vós, com o intuito de o matar? Os tais inimigos de David nem tiveram tempo de responder, porque logo a seguir, ele diz-lhes: Deus é a minha salvação e a minha glória. Assim, aquela pergunta é um altivo e seguro desafio, que contém uma grande e solene resposta: Jamais o conseguireis.

Algumas mais perguntas de até quando podem ser encontradas. Por exemplo, no salmo 82 (81), temos: Até quando julgareis injustamente e favoreceis a causa dos ímpios?, uma expressão que encerra muito de decepção, pesar ou angústia.

Também eu nos meus pensamentos e nas minhas orações, me dirijo muitas vezes a Deus, perguntando-Lhe até quando, até quando? À semelhança de Asaf, eu pergunto : Até quando, meu Deus, vais continuar a consolar o rico e a sacrificar o pobre? E as minhas perguntas deste teor multiplicam-se  indefinidamente: Até quando vou beneficiar desta minha bulimia de viver, bulimia que por vezes esmorece e degenera em anorexia? Até quando me concederás o prazer de usufruir dos bens que Tu me legaste por intermédio dos meus pais, ou que os meus pais me legaram com a Tua ajuda? Não é propriamente um apreensivo grito de alma, é o reconhecimento de que estou a usufruir de bens e benesses que não podem durar sempre.

Perante as convulsões sociais e as crises económicas; perante as inclemências da Natureza; quando eu vejo o sofrimento difundido no mundo pelos ódios e maldades dos homens –  apetece-me clamar:

               Até quando, Senhor, teremos de esperar pelo som das trombetas que precede os teus passos, a vir em manifestação gloriosa instaurar definitivamente o Teu reino? Vem, Senhor Jesus, remediar todas as injustiças e todas as pobrezas para que ninguém tenha necessidade de Te perguntar, nem por cólera, nem por impaciência, nem por angústia,

 

ATÉ QUANDO, ATÉ QUANDO?   

laurindo.barbosa@gmail.com

 

 

publicado por Fri-luso às 21:56

Abril 04 2012

 

 

 

 

 

 

HOSSANAS E ALELUIAS DE PÁSCOA

 

Analisando as palavras da nossa Língua, observamos que muitas delas, apesar de breves, por vezes simples monossílabos, têm um elevado significado. Tais são, v.g., as palavras PAI, MÃE, TUDO, NADA, DEUS.

Muitas vezes com uma palavra tão curta como SIM ou NÃO, podemos revolucionar a nossa vida ou a do nosso semelhante, semear a tristeza ou a alegria. Se dirigidas a Cristo, tudo ganhamos ou tudo perdemos. Vários exemplos ainda nos surgem: PAZ, BEM, MAL, LUZ, AMOR. Assim, até quer parecer que as palavras mais belas e ricas de significado são monossílabos. A própria palavra PÓ, que designa uma coisa nociva, pode assumir um significado transcendente se se referir àquilo que viremos a ser, por força da morte, conforme nos é lembrado na liturgia da Quarta-feira de Cinzas.

No entanto, seria demasiada ousadia, com base nos exemplos precedentes, estabelecer a regra de que a profundeza de uma palavra está na razão inversa do seu número de sílabas. As excepções seriam tantas que invalidariam a regra. Eu próprio posso apresentar já algumas, em vocábulos que designam virtudes: CARIDADE, PACIÊNCIA, BENIGNIDADE, LONGANIMIDADE, CARIDADE, FIDELIDADE, CONTINÊNCIA, etc. Mas eis que, pensando em virtudes, nos surge a palavra FÉ, base de todas elas, palavra curta, monossilábica, de um imenso conteúdo.

Principalmente na celebração da Páscoa, há duas palavras que ressoam maravilhosamente, palavras polissilábicas que têm um grande valor e significado. Uma delas é ALELUIA, que significa louvemos ao Senhor, não lhe faltando cunho bíblico, pois a encontramos repetidas vezes no Livro dos Salmos. Tem a curiosa particularidade de ser escrita e pronunciada da mesma maneira em quase todas as línguas, desde o velho hebraico, donde provém, até ao moderno russo ou japonês. Assim, esta palavra tão sonora bem podia ser o símbolo dos cristãos, tal como o peixe o foi no tempo das catacumbas de Roma. A outra palavra a que me quero referir é HOSSANA, que significa salva-nos, por favor, súplica do auxílio de Deus. No salmo 118 (117),25, é uma prece, depois de uma vitória, para que Deus conceda sempre a sua ajuda. Foi com hossanas que a multidão, entre a qual muitas crianças, acolheu Jesus, poucos dias antes da Sua morte, na sua entrada triunfal em Jerusalém, agora por nós celebrada no Domingo de Ramos. Já nessa altura essa palavra era o que agora mais é para nós: um grito de júbilo de homenagem a Deus. Estas palavras polissilábicas, porque são polissilábicas, prestam-se a serem cantadas em variadíssimas modulações de voz, embelezando sobremaneira os cânticos litúrgicos, imprimindo-lhes unção e devoção.

Na Páscoa, em que celebramos que o Jesus insurrecto passou a ser ressurecto, e que com esta elevação humano-divina proporcionou também ao homem uma Páscoa, passagem, passagem dum distante e sombrio afélio para um consolador e cintilante periélio na sua órbita de aproximação de Deus, todas as aleluias e todas as hossanas que com vibração e entusiasmo cantemos, serão sempre poucas e pobres para a glória de Deus.

Sinto nestas palavras uma magnificência empolgante que gostaria de transmitir a todos os meus leitores, para todos mais dignamente ainda celebrarmos a Páscoa. É para ser apóstolo dentro dos meus limites que pretendo fazer sentir a todos, ao cantar ou simplesmente ouvir as HOSSANAS e ALELUIAS desta Páscoa, um arroubo que aproxime de Deus, esperando que Ele supra a minha débil eloquência e o meu fraco poder de penetração no espírito dos meus irmãos.

PÁSCOA, Abril 2012 

laurindo.barbosa@gmail.com

publicado por Fri-luso às 10:51

Laurentino Sabrosa
pesquisar
 
subscrever feeds