PENSAMENTOS (cont.)
18 - É costume dizer-se que “contra a estupidez até os deuses lutam em vão”. E é verdade. A razão disso é que por muito débil que seja a estupidez, os tais deuses nada podem fazer, pelo simples facto de não existirem, nem nunca terem existido, nem mesmo naqueles recuadíssimos tempos que precederam o tempo em que as galinhas tinham dentes. Contra a estupidez nada vale rezar, nem mesmo a Deus que, por existir, poderia fazer alguma coisa – e isto porque lutar e vencer a estupidez é tarefa que nos está cometida na caminhada para o aperfeiçoamento. Sempre haverá pobres, porque sempre haverá pecados e estupidez.
19 - As estatísticas dizem-me que os namorados de agora quanto mais se beijam mais um dia se vão feder. É o resultado da saturação pelo exagero. Na verdade, beijam-se com tal frenesim e ganância que é difícil saber qual deles à despedida leva a língua do outro na boca.
20 - Verdadeiramente, perante Deus, ninguém é digno de nada. Não somos dignos de continuarmos a receber as suas bênçãos e as suas graças, não somos dignos de que “entre em nossa morada”, não somos dignos de vermos atendidas as nossas orações, não somos dignos de “alcançarmos as promessas de Cristo”. Por muito que façamos, por muito impolutos que sejamos em termos relativos com os nossos semelhantes, perante Deus nada merecemos, de nada somos dignos. Podemos aproximarmo-nos de sermos dignos, mas, verdadeiramente dignos, nunca conseguiremos ser e, por isso, se não fora a incomensurável bondade de Deus com a sua infinita gratuidade, não teríamos salvação.
Mas eu creio que Deus é tão misericordioso que nos concede uma maneira de sermos “verdadeiramente dignos” face à Sua Face. Se nós queremos ser dignos e nos esforçarmos por isso, e, por outro lado, humilde e sinceramente nos convencermos de que nunca seremos dignos, então o procedimento e o facto de estarmos convencidos de que não somos dignos, faz com que na verdade sejamos dignos. E eis, então, o paradoxo: quem é indigno, pode tornar-se digno pela sensação e certeza da sua indignidade.
21 - Dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César, é um dos grandes princípios de justiça. Dar a César o que é do Cesário é a mais clamorosa injustiça.
22 - Contas com Jorge, Jorge na rua; contas com Deus, Deus em casa
23 - Se Deus governasse o Mundo à maneira humana, não precisava de um escritório onde houvesse departamentos de Contabilidade e de Estatística – bastaria o de Organização e Métodos, coadjuvado pelo de Beleza e Limpeza.
24 - Tudo que agrada é provisório ; tudo que aflige é passageiro, Só tem valor o que é eterno.
25 - Ir à Madeira, deve ter mas pode não ter mais importância que uns bilros que se trouxe como recordação; ir aos Açores, deve ter mas pode não ter mais significado que dar um pontapé numa pedra-pomes. Mas ir à Terra Santa, deve ser qualquer coisa de inolvidável, quase sagrada, que exige preparação mental para deixar frutos de ordem espiritual. Na preparação prévia que fizermos, mandamos para lá o nosso espírito, para depois o ir lá buscar.
POSTAL DE PARABÉNS POR ANIVERSÁRIO
PREZADO(a) ANIVERSARIANTE
No dia-a-dia da nossa vida, não nos devemos preocupar demasiado com possíveis e às vezes imaginários problemas. Cristo disse que “a cada dia basta o seu mal”.
Também no dia-a-dia não devemos importunar muito Deus a pedir-Lhe a satisfação de muitos desejos – primeiro, porque Deus sabe bem aquilo de que precisamos, mesmo sem lho dizermos; segundo, porque se “a cada dia basta o seu mal”, é lícito pensar que “a cada dia basta o seu bem” . Portanto, parece conveniente que peçamos a Deus em cada dia a satisfação de não muitos mas apenas um desejo, se quisermos, diferente de dia para dia.
Porém, no dia do aniversário, cada qual tem direito a pedir a Deus a satisfação de todos os desejos, pelo menos tantos quantos os anos que celebra. E então, caro aniversariante, no seu dia, uma vez por ano, peça, peça a Deus tudo, mesmo tudo, porque o que Lhe pede não deve ser só para si, deve ser para todos, para toda a gente, principalmente para os que melhor conhece e os que de perto ou de longe mais o amam.
A recomendar-lhe isto, eu já me sinto reconfortado, por saber que vou ser beneficiado pela satisfação dos desejos que pediu a Deus. Em agradecimento, apresento-lhe os meus parabéns pelo seu aniversário, com sinceros desejos de uma longa vida cheia de saúde.
24 de Março 2012
11 - Assim como não há repouso absoluto, visto que tudo no Universo gira e o que está pousado gira em união com aquilo em que está em movimento, sou tentado a pensar que tudo no Universo tem vida. A Lua, inóspita e desabitada, pelo simples facto de ter movimentos, tem vida, uma vida existencial, não uma vida tal como a que os habitantes da Terra têm, mas vida, que lhe deu “um primeiro motor”, que continua a manifestar-se nela. O dito de Descartes PENSO, LOGO, EXISTO tem sido muito contestado, mas eu posso dizer, em dito talvez mais aceitável: MOVE-SE, LOGO, VIVE. E se é verdade que NADA SE CRIA, TUDO SE TRANSFORMA, isso só é possível porque as coisas têm vida, e quando se transformam passam a nova fase da sua vida.
Uma pedra “nasceu” no seio de uma pedreira com uma vida sem sangue que lateje; quando é transformada em estátua continua com a mesma vida, agora mais débil, sujeita à acção desagregadora da erosão, pela chuva, ventos e sol intenso, elementos estes que, pelo facto de existirem e actuarem, têm, por sua vez, a sua espécie de vida. A erosão intensa e demorada faz desagregar a rocha, “mata-a”, transformando-a em areia, pelo que a rocha continua com vida sobre outra forma; a erosão continua, a própria erosão, porque existe e actua, tem ela própria vida ou um certo tipo de vida, e “mata” a areia, mas esta areia não perde a sua vida porque se transforma em pó, outra fase da sua vida. E assim sucessivamente. Aquilo a que chamamos vida é uma forma de ser, de existir, de permanecer, de estar.
Sendo assim, nada custa aceitar a vida após a nossa morte e, portanto, COM A NOSSA MORTE A VIDA NÃO ACABA, APENAS SE TRASNFORMA.
12 - Muito queria eu “descansar em paz” e “ir desta para melhor”, mesmo antes de morrer! Como isso é impossível nesta vida, estas expressões têm um significado espiritual e filosófico mais profundo do que parece.
13 - Creio que uma grande norma de vida é procurar, em disputas, não ser moralmente obrigado a dar razão a alguém; melhor ainda, procurar que os outros, quando não forem orgulhosos e teimosos, se vejam obrigados a dar-nos sempre razão. Mas ai de quem assim for! O mínimo de que o acusam é ser autoritário.
14 - A água quando está a ser fervida, começa por gemer de dor. Mas, depois de entrar em ebulição, como ela canta e salta de prazer, a adorar o fogo que lhe proporciona aquela nova vida!
15 - Um grande mal das pessoas, sobretudo da juventude, é não saber aproveitar o tempo; pior ainda, querer não aproveitar o tempo por indolência e insensatez. Outro grande mal das pessoas, não está em não saber: está em não aplicar devidamente aquilo que sabem, grande parte dado, em complemento da instrução, pela consciência e pela intuição.
16 - Uma pessoa a rezar é quase como uma mãe a falar para o seu bebé. Ele mostra-se indiferente, não dá mostras de ouvir, raras vezes sorri, mas se não for o carinho da mãe, aparentemente não correspondido, o bebé corre risco de se estiolar. Quando rezamos a Deus, Ele parece indiferente, não dá mostras de ouvir, raras vezes sorri, mas se não for esse nosso carinho para com Deus, aparentemente tão pouco correspondido, seremos nós a criança que se estiola sem o carinho da mãe.
17 - A Terra é um corpo vivo, sempre em regeneração e em rejuvenescimento. As penedias são a sua estrutura óssea, as fontes são coração donde saem os rios, os rios são as veias onde circula o sangue da Terra, Terra que tem como húmus, conforme poderia dizer Marco Aurélio, o esperma de Zeus. Mas Zeus nunca existiu, e por isso, o húmus da Terra é o sangue da Terra, é a água que, como elemento sagrado é vivificadora da alma pelo baptismo, como elemento telúrico é purificadora do corpo. O corpo vivo que é a Terra, tem uma boca, não uma boca hiante com a do dragão do Apocalipse, mas uma boca que proclama a Palavra de Deus. E essa boca tem um palato – o firmamento, quase abóbada, quase azul, mas não é nem abóbada nem azul : um olhar aflito fá-lo negro em pleno dia; um coração exultante fá-lo opalino em plena noite. No entanto, o firmamento é apenas o limite das nossas capacidades visuais. Nada mais firme que o firmamento, porque sendo o palato da boca de Deus, é obra de Deus e não há perigo de vir a derruir.
29 de Fev.2012
O MODERNO CARNAVAL PORTUGUÊS
Não muitos dias volvidos sobre o tempo do Carnaval, ainda estamos a tempo de dissertarmos sobre aquilo em que se tornou o Carnaval em Portugal.
A alegria académica que agora é exibida no tradicional cortejo da Festa da Queima das Fitas, é uma sombra do que era no meu tempo de estudante. Agora, é uma extravagância tão artificial, que por vezes e lamentavelmente, só uns garrafões de vinho a conseguem manter…As perspectivas e as estatísticas dizem que o futuro selou um pacto com o diabo. Então, no cortejo convém afivelar as máscaras da alegria, numa tentativa de cada estudante e todas as pessoas se convencerem de que esse tal pacto com o diabo vai ser quebrado clamorosa e auspiciosamente, ficando o futuro liberto para se lhes apresentar risonho e promissor. Não convém curtir tristezas por antecipação, não convém sermos caixeiros-viajantes da banha de cobras venenosas. E então…haja alegria !... ainda que seja preciso chamar a música, ainda que essa música não seja mais do que gritos de alma amarfanhada por receios, que se escondem por entre a alacridade possível.
No Carnaval português passa-se, mutatis mutandis, a mesma coisa. O “grosso” do Carnaval dantes eram as crianças encantadoramente fantasiadas; adultos com máscaras, que quanto mais horrendas mais bonitas e próprias eram, máscaras com que cada qual intrigava o seu vizinho disfarçando também a voz; os bailes particulares ou no velho e saudoso Palácio de Crista do Porto e espectáculos nos cinemas, com profusão de confettis e fitas tanto a esmo, que alguns se tentavam a reutilizar apanhando-as do chão. Havia mesmo portaria das autoridades a proibir isso, por uma evidente questão de higiene pública. Quase tudo isso acabou.
Não foi só a alegria académica que esmoreceu, foi também a alegria da grande generalidade das pessoas, por motivos de crise social e económica. Uma sociedade que tem muitos jovens na cadeia, muitos filhos “apanhados” pela droga, muitos casais divorciados, muitos jovens com futuro profissional sombrio, não pode ser uma sociedade feliz. E, então, em que se tornou o Carnaval português?
Como a alegria que havia no mercado era pouca e de má qualidade, o remédio, na mente de muita gente, foi importá-la do Brasil. Se, porventura, ficar demasiado dispendioso chamar e contratar
os ilustres profissionais da alegria e das novelas, então organizam-se desfiles de carros alegóricos e satíricos, a que se chamam corsos de Carnaval, numa imitação tão chapada do que se faz no Rio de Janeiro que até nem faltam, apesar do normal frio da época, mulheres noventa e nove por cento desnudas. Como se quer imitar e bem o que se faz na banda di lá, essas mulheres lançam-se num frenesim de dança, a quererem convencer-nos de que também elas são rainhas do samba em atitudes lascivas e cheias de sassaricos. Não estou a querer focar a pouca decência das vestes e das danças, coisa em que modernamente pouco se repara e no Carnaval ainda menos. Estou a focar o decréscimo cultural que em Portugal esses cortejos representam, pela imitação ridícula do que se passa no Brasil mas não é ajustado à nossa alma nacional.
Começa pela diferença quanto à estação do ano: lá é Verão, cá é Inverno e, às vezes, bem frio e chuvoso; depois, as diferenças entre os portugueses e os brasileiros são maiores do que parece. O Brasil é um país imenso, com várias latitudes e longitudes, com um clima predominantemente tropical, situado noutro hemisfério, onde se vê o Cruzeiro do Sul e outros astros que dão aos brasileiros, por assim dizer, outro astral; é um país de gente jovem, não envelhecida como em Portugal e no resto da Europa, alegre, cheia de pensamento positivo e de optimismo – tudo isso se reflete no temperamento do povo, nos costumes, na linguagem, na sua alma nacional onde está infiltrada a exuberância da Natureza.
Querer transpor o carnaval carioca para Portugal, é uma maneira de perder um pouco aquela personalidade e identidade que deve haver em todos nós, e esperemos vá subsistindo ainda para sabermos remediar as nossas crises à portuguesa, não com remédios em imitações, que nem são remédios nem paliativos, pois que até têm algo de parecido com narcóticos.
Nos tempos modernos, os grandes meios de comunicação social têm a pérfida missão de massificar as pessoas, para elas não terem gostos e opiniões pessoais, que a tudo batam palmas e que com qualquer coisa se divirtam. Qualquer povo tem de lutar contra isso, para não acabar na vil tristeza de perder a dignidade, correndo o risco de desaparecer por ter ficado abúlico e amorfo. Portugal tem sobre si uma profunda crise, em todos os aspectos: económica, financeira, moral, social, política e religiosamente. As condições que fizeram evolar-se a graça académica e a alteração de costumes que fizeram chamar o Carnaval do Rio, são um dos sintomas ou consequências dessa crise. Mas eu creio que Portugal, apesar de tudo não irá perecer, porque uma nação que tem como uma gloriosa epopeia cantada n’ OS LUSÍADAS, que tem bandeira e hino dos mais belos do mundo e é a pátria da SENHORA DE FÁTIMA, viverá sempre, às vezes com dor mas sempre com brilho, para continuar a colaborar na História da Humanidade.